A Estância
Turística de Eldorado está ao sul do estado de São Paulo, no Vale do
Ribeira, região apelidada de "Amazônia Paulista" pelo naturalista,
botânico e geólogo português, Manoel Pio Correa, em visita científica por volta
de 1920, e reconhecida pela UNESCO como "Reserva da Biosfera do
Patrimônio Mundial" desde fevereiro de 1993. É o 4º maior município
paulista em território com 70% de sua área coberta por mata atlântica em bom
estado de conservação. Abriga várias cavernas, onde a mais conhecida é a Gruta
da Tapagem ou "Caverna do Diabo", muitas trilhas e cachoeiras além de
uma rica história e cultura preservada nas comunidades quilombolas.
Xiririca em 1908.
A história da Estância Turística de Eldorado começa
por volta de 1630, quando exploradores portugueses adentraram o rio
Ribeira à procura de veios de ouro, metal que já tinha sido encontrado nas
proximidades da Vila de Iguape. Os primeiros povoados, também chamados de
arraiais de mineração, criados às margens do Ribeira foram Ivaporunduva e
Jaguary (dois vocábulos de origem guarani; o primeiro com o significado de
rio de muitas frutas ou de fartura e o segundo, jaguar-hy - rio do jaguar, como
era chamada a onça parda ou suçuarana). Em seguida, surgiram Sete Barras,
Boa Esperança, Braço e Sant´Ana, hoje Iporanga (água bonita, em guarani). O
ouro retirado nessas localidades era registrado num porto (onde hoje é a cidade
de Registro, considerada a capital do Vale do Ribeira) e depois era fundido em
barras e descontado o quinto real na primeira “Casa de Fundição” do Brasil,
também considerada a primeira “Casa da Moeda” brasileira, em Iguape.
Por volta de 1750 um outro povoado começou a se
formar, cerca de 20km, rio abaixo, de Jaguary, hoje Itapeúna (pedra preta
pontuda, em guarani): o povoado de Xiririca, de fronte à foz do
ribeirão de mesmo nome e afluente do Ribeira. (Xiririca é uma palavra de origem
indígena (guarani) e onomatopéica. Refere-se ao som que a água dos ribeirões
produz quando atravessa uma corredeira (algo como: o “xiriricar” da água). A
palavra foi traduzida, simploriamente, como “água corrente” ou “corredeira”.)
Em 16 de janeiro de 1757, os irmão Veras, de
uma das mais importantes famílias dessa época de colonizadores, doaram duas
casas no povoado de Xiririca para a construção de uma capela. No dia 8 de
setembro do mesmo ano a capela recebeu a imagem de Nossa Senhora da Guia que
passou a ser a padroeira do lugar.
Xiririca pertencia politica e eclesiasticamente à
Vila de Iguape. Em 13 de janeiro de 1763, após ter nomeado um pároco
para a localidade, Pe. Dr. José Martins Tinoco, Xiririca passou à categoria de Freguesia,
portanto, independente eclesiasticamente de Iguape.
A ocorrência de duas grandes enchentes, que
causaram grandes prejuizos à Freguesia de Xiririca, em 19 de janeiro de 1807 e
28 de janeiro de 1809, levantaram a discussão de mudança do povoado. A mudança
veio de forma paulatina, controversa e com inúmeros conflitos por parte dos
habitantes contrários e favoráveis, entre 1816 e 1834, para o Porto da Formosa,
em local mais alto, e cerca de 2km rio abaixo.
Finalmente, pela lei nº 28 de 10 de março de
1842 assinada pelo Barão de Monte Alegre, presidente da província, era a
Freguesia de Xiririca elevada à categoria de Vila, o que, na época,
equivalia a município. Xiririca passava a ser independente de Iguape. No
entanto, só em 2 de maio de 1845 instalou-se a primeira Câmara Municipal sob a
presidência do padre Joaquim Gabriel da Silva Cardoso.
Em 2 de março de 1857 chegou primeiro barco a vapor
(o “Estrela”) à Vila de Xiririca, iniciando um período promissor de escoamento
de produção e entrada de mercadorias dos grandes centros.
Um dos barcos a vapor que fazia a linha Iguape / Xiririca
Em 31 de agosto de 1871, nasce aquela que hoje é
apontada por muitos como a maior poetisa do Brasil: Francisca Júlia da Silva
Munster. Ainda menina, mudou-se para São Paulo com os pais onde construiu
sua vida de escritora numa época em escrever era algo apenas para os homens.
Francisca Júlia faleceu em 1º de novembro de 1920, logo após a morte de seu
marido.
Francisca Júlia.
A Comarca de Xiririca foi criada em 6 de julho de
1875 e instalada em 25 de novembro do mesmo ano.
Em 1896, o pesquisador e naturalista Ricardo
Krone, em expedição científica pelo Alto Vale do Ribeira, descobre
oficilamente a Gruta da Tapagem que, posteriomente ficou conhecida como “Caverna
do Diabo”, de grande importância para o turismo da região e do estado.
O grupo de Ricardo Krone explorando as cavernas no Vale.
Em setembro de 1926 foi inaugurada a Usina de
Energia Elétrica, uma das primeiras do estado de São Paulo, instalada no
ribeirão Xiririca, que abasteceu a cidade até 1962. No dia da inauguração da
iluminação, o engenheiro Nuno Silva, que estava à frente do empreendimento,
minutos antes do horário previsto para a operação, subiu num poste para fazer
um reparo, quando a luz foi ligada. Atingido pela descarga elétrica, ele foi
levado em estado gravíssimo para Santos, onde faleceu.
Em 24 de dezembro de 1948, o nome Xiririca
foi substituido por Eldorado Paulista, em alusão ao período do ciclo do
ouro. Na época, outros nomes foram sugeridos como “Miraluz” e “Formosa do
Ribeira” mas, Eldorado acabou sendo o escolhido.
Xiririca com a Matriz virada para o Rio Ribeira
Em 1970, o lider do VPR (Vanguarda Popular
Revolucionária), Capitão Carlos Lamarca passou por Eldorado, vindo do
sertão de Jacupiranga, passando pelos lados Alto Rio Batatal, Areado e Barra do
Braço. Na Praça Nossa Senhora da Guia, o guerrilheiro e mais 8 homens trocaram
tiros com a polícia local. Em seguida atravessaram a ponte sobre o Ribeira e
foram para Sete Barras onde renderam um caminhão do exército e fugiram para São
Paulo. Lamarca e seu grupo lutavam contra o regime da ditadura militar. Em
setembro de 1971 foi morto no sertão da Bahia depois de traído por um de seus companheiros.
Lamarca e seus companheiros em treinamento de guerrilha.
As belezas naturais, rios, cachoeiras, cavernas e a
riqueza cultural e histórica, contribuiram para que o município fosse
reconhecido como Estância Turística em 1º de agosto de 1995.
Em janeiro de 1997, a maior enchente da história
assolou o Vale do Ribeira. O Rio Ribeira subiu mais de 14 metros acima de seu
nível normal causando enorme prejuízo a toda região.
Hoje, Eldorado luta para retomar seu crescimento,
com o desafio de aliar o desenvolvimento econômico às questões socioambientais,
construindo um futuro onde as gerações que ainda virão possam desfrutar de seus
recursos naturais de maneira sustentável.
Entre as montanhas e o majestoso Ribeira, a pequena Eldorado.
Por Lélis Ribeiro.